
Lean Thinking: filosofia com resultados questionáveis ou aplicações e interpretações equivocadas?
Neste artigo destacamos pontos importantes na relação da filosofia com empresas iniciantes para que estas, tenham consciência de que os resultados são possíveis.
Nos últimos anos diversas empresas de diversos setores (automotivo, agronegócio, construção civil, serviços, hospitais, entre outros) estão utilizando, ou tentando utilizar, o Lean Thinking (LT) como estratégia para melhoria dos seus resultados.
Entretanto, muito se fala da baixa taxa de sucesso das empresas em implantar a filosofia do LT com sucesso e mantê-la no longo prazo. A partir disso, muitos críticos acabam colocando o LT como algo utópico ou que não dá certo. A questão é: o problema está no LT ou nas empresas que não compreenderam completamente a filosofia e falharam na implantação? Sabemos que mesmo a aplicação de apenas algumas ferramentas e conceitos é possível ter resultados positivos, mas quais são os pontos centrais para adoção da filosofia e para o sucesso no longo prazo?
1) Copiar ou adaptar o Sistema Toyota de Produção (STP)?
Na nossa concepção, uma empresa Lean não precisa ter todas as técnicas e ferramentas da Toyota implantadas, mas é primordial que ela tenha claro o seu propósito e as condições do negócio/segmento a qual está inserida. O setor de confecção de vestuário, por exemplo, possui características que dificultam a implantação de supermercados na sua forma clássica, visto que o ciclo de vida de seus produtos costumam ser muito curtos e estão atrelados a um grande mix. Sendo assim, o ponto chave é a adaptação do modelo para cada negócio ou segmento e nesse interim, vemos muitas empresas desenvolvendo os seus próprios sistemas de produção/gestão (veja mais sobre a nossa solução Framework para Excelência).
Voltando na história do STP, podemos concluir que este é um dos primeiros legados que a Toyota deixou e muitas empresas o negligenciam ao tentar copiar o STP fidedignamente. Taiichi Ohno ao visitar os EUA em 1956, conheceu as operações de sucesso da Ford e da GM, mas ao voltar para o Japão entendeu que não poderia copiar, uma vez que o cenário era diferente. Aproveitou as ideias vistas nos supermercados e iniciou o desenvolvimento do famoso Just in Time (JIT).
2) A mentalidade do LT é adaptável?
Apesar das técnicas serem aplicadas e adaptadas conforme as características do negócio, alguns elementos da mentalidade do LT devem ser preservados, entre eles:
Filosofia de longo prazo – a implantação do LT exige uma mudança de cultura e comportamentos de toda organização e isso leva tempo. Muitas empresas condicionam os próximos passos das iniciativas de implantação do LT apenas aos resultados de curto prazo. Essa é uma armadilha que pode impactar negativamente o sucesso dessa organização na adoção do LT. Cabe destacar que a Toyota faz isso há mais de 50 anos e continua trabalhando para melhorar o seu sistema.
Foco no desenvolvimento das pessoas – o LT é centrado no desenvolvimento de pessoas e, sendo assim as empresas que possuem intenção em utilizá-lo devem capacitar e desenvolver todas as pessoas com bastante atenção às lideranças.
Busca pela perfeição – acreditar que sempre é possível melhorar, incentivar a exposição dos problemas, enxergá-los como oportunidades e ter métodos claros para a solução é fundamental para que a organização evolua na adoção do LT. A valorização das pequenas melhorias é importante, pois o somatório delas faz diferença no longo prazo e desenvolve uma nova mentalidade dentro das organizações. Dessa forma, é dado estímulo a melhoria contínua e a eliminação do estigma de que problemas devem ser escondidos.
3) A importância da convicção
O processo de implantação do LT pode iniciar de várias formas, mas chegará um ponto que a evolução das iniciativas estará diretamente ligada a participação e o apoio das diretorias. Nesses casos, participar e apoiar vai muito além de fazer a abertura de um treinamento ou participar do encerramento de uma semana kaizen, significa mudar a si próprio, praticar o genchi genbutsu e principalmente defender a filosofia em momentos de instabilidade ou quando algumas iniciativas não derem tão certo. Além disso, dar condições para que os trabalhos tenham continuidade e prazos adequados, não condicionando a continuidade deles ao atingimento de metas isoladas.
Fazer tudo isso com a pressão de acionistas e clientes não é fácil e é por isso que a alta administração precisa estar convicta de que o LT é o caminho. Vale ressaltar aqui que o desenvolvimento da convicção só acontece quando se tem humildade para buscar conhecimento pleno sobre o assunto, com estudos de livros, cases, trocas de experiências com gestores que já passaram por esse processo e, principalmente, com a prática.
Atenção! Não é de hoje que os discursos dentro das organizações são totalmente alinhados a teoria, mas as suas ações são contraditórias. Quando essas atitudes são tomadas, a mensagem transmitida para toda a organização é de que o LT não é importante e, dessa forma, ele jamais será a forma como a empresa pensa e trabalha. Fiquem atentos as suas ações!
4) O que diferencia a Toyota e as empresas que têm sucesso no LT das demais?
Além dos itens já comentados, um comportamento é fundamental. Sempre que a implantação de algum conceito ou ferramenta não é concluída com sucesso, essas empresas não voltam para o modelo anterior, elas resolvem os problemas que apareceram e seguem evoluindo.
A opção desafiadora é continuar buscando a visão de “um fluxo contínuo”. Isso requer combater e trabalhar obstáculos reconhecidamente difíceis, visando obter um fluxo sincronizado e conectado, assim como o desenvolvimento de novas soluções.
Mike Rother
Grande parte das empresas falham ao implementar as células de fluxo unitário e retornam aos layouts funcionais, cheios de estoques intermediários. Estas alegam que o fluxo unitário não funciona, porém não se dão conta da realidade: já está funcionando, pois foi possível enxergar os problemas. As células funcionam em condições específicas, e caso não existam no momento, é necessário colocar isso como condição alvo e trabalhar para um dia usar esse modelo em sua plenitude.
5) Afinal, funciona ou não?
Os resultados obtidos pela Toyota e outras empresas apontam que a filosofia tem resultados positivos expressivos. Entretanto, muitas empresas não obtêm os mesmos resultados principalmente por falharem em algum ponto durante a sua implantação, visto que o LT costuma ser compreendido facilmente, mas é de difícil implantação. São necessárias mudanças de processos e comportamentais para que a jornada seja bem sucedida. Vale destacar que implantação não possui um fim, afinal é necessário que exista um esforço constante para manutenção de todos os elementos que compõe um sistema produtivo.
P.S. Esse texto não teve como objetivo esgotar os pontos importantes para o sucesso na adoção do LT. Porém, os pontos abordados são importantes para que as empresas iniciantes no LT tenham consciência de que os resultados são possíveis, mas é necessário passar por um longo caminho e isso exige muito esforço.
Se você ficou interessado em entender mais ou tem curiosidade nesse assunto, não deixe de ler Toyota Kata. É uma obra incrível, que explora o tema de uma maneira completa, com profundidade e, sem dúvida, é um livro que muda a concepção das pessoas a respeito do que é o lean.
Autores:
Referência:
ROTHER, Mike. Toyota Kata: Gerenciando Pessoas para Melhoria, Adaptabilidade e Resultados Excepcionais. Porto Alegre: Bookman, 2010..